O perigo de ser workaholic
- Nádia Rocha
- 13 de nov. de 2023
- 3 min de leitura
Ser workaholic, ou seja, ter uma tendência compulsiva ao trabalho, é um hábito muito comum e incentivado na sociedade atual, especialmente nos meios do empreendedorismo e das start ups. Em lugares como o Vale do Silício ou áreas de TI ou digital, dedicar 100 horas por semana ao trabalho e estar disponível 24/7 é bem comum. Isso é impulsionado por incentivos em dinheiro, promoções e a constante busca pela produtividade.

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Por um lado, à medida que os empregos se tornam mais automatizados e distantes de seu propósito original, a autonomia diminui, os ganhos financeiros são modestos e o senso de realização no trabalho é reduzido. Essa mentalidade de trabalhe duro, divirta-se muito muitas vezes leva a um consumo compulsivo como recompensa após um dia cansativo, como explica a psiquiatra norte-americana Anna Lembke no seu livro Nação dopamina.
Por outro lado, pessoas com empregos mal remunerados muitas vezes trabalham mais para ganhar para a subsistência. Já profissionais altamente capacitados aumentam suas horas de trabalho, em grande parte devido às recompensas significativas para aqueles no topo da hierarquia econômica ou por causa da exigências desses altos cargos.
Já ouviu falar no estado de flow? Também conhecido como fluxo, é um conceito conhecido no meio da Psicologia, desenvolvido por Mihaly Csikszentmihalyi na sua obra Flow. Ele descreve um estado mental em que uma pessoa está totalmente imersa em uma atividade, sentindo-se energizada, focada e envolvida no que está fazendo. O estado de flow geralmente ocorre quando há um equilíbrio entre o desafio da tarefa e as habilidades da pessoa, resultando em uma experiência gratificante e intrinsecamente motivadora. Em contraste, o workaholic é alguém que tem uma compulsão excessiva pelo trabalho, muitas vezes sacrificando outros aspectos da vida.
Embora haja uma possível interseção, onde um workaholic pode experimentar o estado de flow durante períodos intensos de trabalho, a diferença crucial reside na motivação intrínseca e no equilíbrio geral na vida da pessoa. O estado de flow é positivo, enquanto o workaholism está associado a desequilíbrios prejudiciais e motivação extrínseca.
Sobre esse equilíbrio, o reconhecido neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis estudou o princípio fisiológico da conservação de energia do cérebro. Em seu livro O verdadeiro criador de tudo, o autor argumenta que o cérebro tem um quantidade limitada de energia e os circuitos neurais devem se ajustar para manter esse equilíbrio. Essa ideia se relaciona com uma cota de energia disponível para realizar o trabalho.
Quando as pessoas se tornam workaholics, dedicando uma quantidade excessiva de tempo e esforço ao trabalho, estão, de certa forma, gastando sua energia mental e emocional de forma desproporcional em suas atividades profissionais. Isso pode ser comparado ao uso excessivo de energia para o trabalho.
Assim, aponto abaixo três aspectos negativos a serem considerados sobre o modo de operação do workaholism:
Diminuição da produtividade: apesar da crença comum, trabalhar demais não necessariamente se traduz em maior produtividade. A exaustão pode levar a uma redução na qualidade do trabalho, tomada de decisão inadequada e menor criatividade. A falta de descanso e lazer também pode prejudicar a capacidade de concentração e foco.
Falha na gestão do tempo: O trabalho excessivo muitas vezes é uma indicação de uma má gestão do tempo. A eficiência pode ser comprometida quando alguém está constantemente envolvido no trabalho sem tempo suficiente para descanso e recuperação.
Saúde física comprometida: Trabalhar excessivamente pode levar a problemas de saúde física, como fadiga crônica, distúrbios do sono, dores musculares, e até mesmo doenças cardiovasculares. A falta de tempo para o autocuidado e a negligência de atividades físicas podem contribuir para esses problemas, e pode ocasionar o famoso burn out.
Esse modelo de estilo de vida voltado ao excesso de trabalho pode ter sérios impactos na saúde física e mental, bem como nas relações pessoais. Essa dedicação extrema pode prejudicar nossos relacionamentos com amigos e familiares ao longo do tempo. Dessa forma, é essencial encontrar um bom-senso entre trabalho e vida pessoal para manter a saúde mental e relações interpessoais sólidas.
Ou seja, ser workaholic pode significar um gasto desproporcional de energia no âmbito profissional em detrimento de outras áreas da vida. Portanto, cuide com carinho de sua cota!
Referências:
CSIKSZENTMIHALYU, Mihaly. Flow: A psicologia do alto desempenho e da felicidade. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2020.
LEMBKE, Anna. Nação dopamina : por que o excesso de prazer está nos deixando infelizes e o que podemos fazer para mudar. São Paulo : Vestígio, 2022.
NICOLELIS, Miguel. O verdadeiro criador de tudo. São Paulo: Planeta, 2020.
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