Já ouviu falar sobre a Tirania da Conveniência?
- Nádia Rocha
- 24 de out. de 2023
- 2 min de leitura
Da sabedoria de Buda à luta contra a tirania da conveniência: descobrindo a harmonia entre facilidade e propósito na vida.

Buda instruiu sobre a busca do Caminho do Meio entre o sofrimento e o prazer. Ele enfatizou a importância de equilibrar nossas vidas, evitando os extremos de excessos e privações. Esse Caminho do Meio proposto por Buda envolve encontrar um equilíbrio sábio entre os prazeres mundanos e o apego a eles, bem como a renúncia completa e o sofrimento autoinfligido.
Essa busca é vista como uma forma de alcançar a iluminação espiritual e a libertação do ciclo de sofrimento, conhecido como samsara, que é um dos objetivos fundamentais do Budismo. Essa sabedoria atemporal de Buda continua a ressoar e oferecer orientação para aqueles que buscam um caminho de paz e compreensão no mundo moderno.
No entanto, mesmo essa abordagem do Caminho do Meio tem sido distorcida pela influência da Tirania da Conveniência. Tim Wu foi o primeiro a escrever sobre esse assunto, no seu artigo The Tyranny of Convenience para o The New York Times em 6 de fevereiro de 2018.
Para o autor, no mundo moderno, a conveniência se tornou uma força poderosa, influenciando não apenas nossas vidas individuais, mas também a estrutura da economia. Embora valorizemos a liberdade e a individualidade, muitas vezes a conveniência toma as rédeas de nossas decisões, moldando nossas preferências e escolhas. A busca pela conveniência está intimamente ligada ao crescimento de gigantes como a Amazon, pois quanto mais fácil algo se torna, mais poderosa a conveniência se torna.
Entretanto, a obsessão pela conveniência levanta questões importantes. Tim Wu argumenta que a conveniência pode simplificar a vida e tornar tarefas árduas mais fáceis, também pode ameaçar o valor das lutas e desafios que dão sentido à nossa existência. A conveniência pode eliminar obstáculos, mas também pode nos privar da oportunidade de crescer e aprender com esses obstáculos. O culto à conveniência tem suas raízes no final do século XIX e início do século XX, quando surgiram dispositivos de economia de trabalho para o lar, prometendo liberar tempo para o lazer e o autodesenvolvimento.
A segunda onda de tecnologias de conveniência, que vivemos atualmente, busca tornar a individualidade conveniente. No entanto, essa busca por personalização em massa frequentemente nos torna mais homogêneos, limitando a expressão de nossa singularidade. Consequentemente, a conveniência tem levado muitos a se tornarem multitarefas, perdendo a profundidade na experiência humana. O autor sugere que devemos abraçar conscientemente a inconveniência, pois é nas escolhas desafiadoras que encontramos nossa verdadeira individualidade e significado.
Em um mundo onde a conveniência impera, é importante reconhecer que a dificuldade é parte intrínseca da experiência humana. Abraçar o inconveniente nos permite enfrentar desafios, desenvolver habilidades e encontrar satisfação na superação. A luta, muitas vezes, é a solução para a questão de quem somos. Devemos resistir à tirania da conveniência e abraçar as escolhas desafiadoras, buscando um equilíbrio entre o fácil e o significativo em nossas vidas.
Referência:
Tim Wu, “The Tyranny of Convenience”, The New York Times, 6 de fevereiro de 2018.
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