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Do caos à cura: como o câncer e um desastre ambiental moldaram minha visão sobre Regeneração

Hoje iniciei a escrita da minha jornada sobre Regeneração aqui no blog. Foi um conceito que conheci em um curso de ESG da Box 1824. Eu esperava aulas básicas sobre sustentabilidade, mas acabei recebendo muito mais. O curso ofereceu uma visão histórica e sistêmica desse conceito (que irei desenvolver em um próximo post) e, logo na primeira aula, já se declarava a sua morte. Não porque o conceito acabou, mas porque é o início de novas discussões.


mulher caminhando na beira de uma lagoa
Foto: período regenerativo, em que estou de férias em SC.

ESG é uma sigla em inglês que significa Environmental, Social, and Governance, ou em português, Ambiental, Social e Governança. Ela tem se tornado um tema cada vez mais complexo. Em outras palavras, trata-se da vida das pessoas, do planeta e da sua gestão.


Quando eu era pré-adolescente, ao ser questionada sobre qual profissão gostaria de seguir, tinha duas respostas: ser bombeira, para salvar vidas, e trabalhar no Greenpeace, para salvar o meio ambiente. Talvez por isso as pautas de ESG sempre tenham me atraído – meio ambiente, pessoas. Acabei me formando e trabalhando com Administração. Irônico, não?


Se há uma causa que realmente me mobiliza, são essas: Meio Ambiente, Pessoas e Gestão.


Hoje, ser apenas sustentável não basta, pois isso implica um impacto neutro, que mantém o status quo. Precisamos ir além, gerar um impacto positivo e real para o futuro.


Como cheguei a essa reflexão? No dia 1º de maio de 2024, estava marcado o lançamento da Nadi Labs, um projeto de cocriação que transcendia minha atuação no serviço público. Eu queria levar ações e eventos de bem-estar às pessoas.


Voltando um pouco mais, no meio de 2023, descobri que tinha câncer de mama. Não se preocupe, as coisas deram muito certo: apesar de ser uma situação muito difícil, fiz minha cirurgia e estou em tratamento até 2029. A Nadi Labs surgiu como um projeto de crescimento pós-traumático, um desejo de exercer autonomia e gerar valor por meio de iniciativas próprias e em colaboração, após ter tido contato com a finitude da vida. Queria impactar as pessoas com os aprendizados que acumulei.


Coincidentemente, estava finalizando uma formação como Instrutora de Yoga e uma especialização em Neurociência, Psicologia Positiva e Mindfulness pela PUCPR. Estava bem preparada para iniciar esse projeto, focado em bem-estar sistêmico – florescimento, yoga, atenção plena, gestão de pessoas, neurociência... baseado na minha experiência após o trauma.


No entanto, em 1º de maio de 2024, começaram as chuvas devastadoras no Rio Grande do Sul, um dos piores desastres climáticos do Brasil. Meu bairro, o Centro Histórico de Porto Alegre, estava no epicentro das enchentes, próximo ao Rio Guaíba, que transbordou seus limites e invadiu a cidade. Em meio a vários projetos planejados para maio – yoga na praça, clube de leitura, workshop no museu, conversas sobre protagonismo –, a cidade ruiu. Ficamos sem luz, sem internet, sem telefone, sem água, enquanto a lama subia pelas ruas, chegando às casas.


A cidade entrou em colapso. Eu entrei em colapso. Cancelei as atividades do Nadi Labs, pois naquele momento falar de bem-estar parecia supérfluo. As pessoas estavam lutando para sobreviver a um desastre, e eu precisava superar mais um trauma, agora ambiental. Durante esse período de introspecção, percebi que o bem-estar humano é apenas uma parte do todo que precisamos compreender (o 'S' do ESG). O meio ambiente está sendo destruído, e isso nos afeta diretamente, impactando nossa própria sobrevivência, que precede o bem-estar.


Voltando ao início deste post, foi nesse tempo que fiz o curso da Box 1824, onde fui apresentada ao conceito de regeneração. Mas o que significa ser regenerativo? Significa compensar os débitos do passado e construir créditos para o futuro. Ou seja, a regeneração vai além de evitar danos – trata-se de reparar e melhorar ativamente o que foi degradado, criando sistemas que prosperem.


Essas experiências pessoais profundas – o diagnóstico de câncer e o enfrentamento de um desastre ambiental – transformaram minha visão sobre meu papel no mundo. Enquanto enfrentava a batalha contra o câncer, percebi a fragilidade da vida e a importância de cuidar de si mesmo. No entanto, quando a enchente devastou minha cidade, compreendi que o bem-estar individual está intrinsecamente ligado ao bem-estar do meio ambiente. Essa conexão me fez perceber que regenerar não significa apenas curar o corpo, mas também restaurar e proteger o que nos sustenta: a nossa casa comum, o planeta.


Essas vivências me levaram a uma introspecção profunda, onde percebi que minha vocação para a gestão precisava ir além dos números e da eficiência. Era necessário olhar para as pessoas e o planeta de maneira mais holística. Encontrei um novo propósito: ser uma agente de regeneração, promovendo a cura não apenas no âmbito pessoal, mas também ambiental.


Afinal, como podemos falar em bem-estar quando o lugar onde vivemos está ferido? A regeneração tornou-se, então, um chamado para restaurar a harmonia entre nós e o mundo ao nosso redor.


E por aí, você já tinha escutado essa ideia de de regeneração?

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©2023 por Nádia Rocha

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